Rede Tenis Brasil

Esporte e educação podem (e devem) andar juntos, até em Roland Garros

Conciliar treinos e competições com estudos é um dos grandes desafios dos jovens atletas de alto rendimento

Conciliar uma rotina de treinos e competições com os estudos é um dos grandes desafios dos jovens atletas de alto rendimento. Entre os meses de maio e junho, esse equilíbrio se torna ainda mais exigente para os tenistas do Time Rede Tênis, que embarcam para uma intensa gira europeia, com até sete semanas de torneios juvenis, incluindo um dos maiores palcos do tênis mundial: o Roland Garros Junior.

Os atletas Pietra Rivoli, Pedro Chabalgoity e Luis Guto Miguel já estão garantidos na chave principal do torneio, enquanto Nauhany Silva disputa o qualifying em busca de uma vaga. Todos, vale destacar, estão em fase escolar — todos cursando o Ensino Médio à distância – e precisam manter o desempenho acadêmico em dia, mesmo longe de casa, sob pressão competitiva e com uma rotina intensa de viagens.

E é exatamente nesse período, de alta carga emocional e física, que o equilíbrio entre tênis e estudo se torna ainda mais delicado. Para muitos, essa é a primeira vez participando de uma gira internacional tão extensa, e a rotina intensa dos torneios, com treinos, jogos, viagens, fuso horário e tudo mais, acaba impactando diretamente a organização para os estudos.

É aí que entra o meu papel como coordenadora pedagógica do projeto. Tenho me dedicado a organizar reuniões com os atletas, os responsáveis e os treinadores, buscando esse alinhamento educacional que considero tão essencial quanto o treinamento técnico.

Mais do que acompanhar o rendimento escolar, procuro me aproximar dos atletas, entender suas realidades, escutar suas dificuldades e ajudá-los a encontrar soluções viáveis para manter os estudos em dia mesmo longe de casa. Muitos me dizem que não conseguem estudar durante os torneios por causa do cansaço, da falta de tempo ou da internet ruim. Já os treinadores, por outro lado, relatam que durante os torneios o tempo livre é até maior do que nos dias de treino intenso no Brasil.

A partir dessa escuta, trago uma provocação: talvez a maior dificuldade esteja no campo emocional. O desafio de gerenciar o chamado “tempo livre” pode estar diretamente ligado ao impacto das viagens, à exigência da recuperação física e às distrações naturais de estar em um novo país. Tudo isso pesa, e entender esse contexto é fundamental para pensarmos em estratégias mais empáticas e eficazes.

Foi para resolver esse descompasso que iniciamos, juntos, um novo tipo de diálogo. Estamos construindo, passo a passo, uma ponte entre o trabalho pedagógico e o esportivo. É um processo que está apenas começando, mas já vejo resultados concretos. Hoje, temos uma meta mínima de 10 horas de estudo por semana, mesmo durante as competições. Alguns atletas conseguem se organizar sozinhos. Outros, especialmente os mais jovens ou menos preparados, contam com planos de estudo personalizados, que eu mesma preparo.

Mais importante do que cobrar, é mostrar que é possível. Meu papel também tem sido conscientizar os treinadores de que, naquele momento, eles são a referência dos atletas, estão no lugar dos pais, dos professores, da rotina. E por isso, o olhar deles para o lado educacional faz toda a diferença.

Essa aproximação com a comissão técnica tem sido um marco no nosso projeto. Até pouco tempo, muitos treinadores não se viam como parte ativa nesse processo. Hoje, reconhecemos que o envolvimento da comissão técnica é essencial para o sucesso do acompanhamento, pois são eles que apoiam e orientam os atletas no dia a dia dos torneios. Aos poucos, estamos transformando esse cenário.

Ainda estamos engatinhando. Mas já é um começo, e um começo promissor.

Afinal, formar um atleta vai muito além das quadras. É também formar cidadãos íntegros, capazes de construir seu futuro com autonomia, seja no esporte ou na vida.

Cecy Azevedo é coordenadora pedagógica da Rede Tênis. Graduada em Pedagogia com especialização em Orientação Educacional e pós-graduada em Psicopedagogia Institucional, tem longa experiência na rede pública de ensino. Na Rede Tênis, atua tanto no projeto de Massificação quanto no Time Rede Tênis (alto rendimento), acompanhando o desenvolvimento escolar dos atletas junto aos núcleos, pedagogas e treinadores.

Tags :

Compartilhar

Leia também

Pular para o conteúdo