Desenvolver habilidades dentro e fora das quadras é essencial para que o jovem tenista transforme disciplina e resiliência em crescimento pessoal e esportivo
O tênis brasileiro vem se estruturando para dar maior atenção às categorias de base. Formar jovens atletas vai além da técnica e da preparação física: envolve lidar com pressões emocionais, expectativas familiares e as complexas transições da adolescência. Nesse contexto, a psicologia do esporte ocupa papel estratégico, sustentando trajetórias saudáveis e duradouras, além de potencializar o desempenho.
A fase juvenil é marcada por desafios particulares: autoconhecimento em construção, busca por identidade, amadurecimento emocional, adaptação a rotinas de alto rendimento e decisões importantes. Para o jovem tenista, treinar não significa apenas aprimorar golpes e táticas, mas também aprender a lidar com derrotas, manter disciplina em viagens constantes e equilibrar vida pessoal, escolar e esportiva.
O psicólogo do esporte atua como mediador desse processo, desenvolvendo recursos como foco, comunicação, regulação emocional, resiliência e autoconfiança. Cuidar da saúde mental desde essa etapa é essencial para minimizar a probabilidade de questões limitantes futuras e garantir que o desenvolvimento esportivo caminhe junto com o bem-estar.
A exposição às redes sociais e à mídia tornou-se parte do cotidiano das novas gerações. Jovens atletas convivem com elogios e críticas em tempo real, além de uma avalanche de estímulos rápidos e constantes. Esse ambiente pode acelerar aprendizados, mas também amplia riscos de comparação excessiva, ansiedade e perda de foco.
O trabalho da psicologia do esporte é justamente ajudar a estabelecer limites saudáveis, desenvolver maturidade para lidar com essa visibilidade e transformar a exposição em ferramenta de crescimento, e não em fonte de estresse.
Quando se trata da mulher atleta, os desafios ganham contornos ainda mais específicos. Meninas enfrentam pressões relacionadas a estereótipos de gênero, comparações físicas precoces e inseguranças sobre sua permanência no esporte em fases de transição. A psicologia, nesse cenário, favorece a construção de uma identidade esportiva positiva e a criação de ambientes inclusivos, que valorizem tanto o rendimento quanto o bem-estar.
Nenhum atleta se desenvolve isoladamente. O ambiente em que está inserido – dentro e fora da quadra – é determinante na formação de hábitos e comportamentos que sustentam o desenvolvimento. Treinadores, preparadores físicos e fisioterapeutas precisam atuar de forma integrada, transmitindo valores de disciplina, ética e autocuidado. A família, por sua vez, exerce papel decisivo: oferecer apoio emocional, respeitar limites e confiar no trabalho da equipe. Quando pais e equipe técnica compartilham a mesma visão, cria-se um ecossistema saudável que fortalece o desempenho e a construção de competências socioemocionais duradouras.
Investir em psicologia do esporte no tênis juvenil é investir em sustentabilidade de carreira. Não se trata apenas de revelar talentos, mas de formar cidadãos éticos e resilientes, capazes de lidar com vitórias e derrotas dentro e fora das quadras. Ao integrar ciência, cuidado humano e diálogo constante entre famílias e equipes técnicas, a psicologia contribui para que o futuro do tênis brasileiro seja competitivo, saudável e inspirador.
Mariana de Araújo Andreoli é psicóloga do Time Rede Tênis. Graduada em Psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pós-graduada em Análise do Comportamento e Terapia Comportamental pela USP. Especializada em Neuropsicologia e Psicologia do Esporte. Atua com diversas modalidades, também é psicóloga do time de vôlei feminino do SESC-RJ Flamengo.